22 de Maio, 2020
CLÃ - VÉSPERA [novo álbum]
Ouve aqui o novo álbum dos Clã com as letras oficiais.
CLÃ - SINAIS
[Estrofe 1]
Ontem à noite
A terra tremeu
Não foi notícia
Ninguém mais sentiu
Sombras sem dono
Varreram o chão
Portas rangeram
Pedindo atenção
Ninguém quis ouvir
[Refrão]
E até ver
Em cada sinal
Há só resquícios de mim
Mas eu sei
Que vou pontual
E este é o princípio do fim
[Pós-Refrão]
É o começo do fim
[Estrofe 2]
Hoje nos ombros
No meu cabelo
Pousam gaivotas
Pedem-me asilo
Brincam nos parques
Crianças com os pais
Nasceram grisalhas
Ninguém liga aos sinais
Ninguém lê os sinais
[Refrão]
E até ver
Em cada sinal
Há só resquícios de mim
Mas só eu sei
Que vou pontual
E este é o princípio do fim
[Refrão 2]
E até ler
A cena final
Não vou saber ao que vim
Que estou pontual
E este é o princípio do fim
[Pós-Refrão]
Eu sei que é o fim
O começo do fim
Eu sei que é o fim
CLÃ - TEMPO-ESPAÇO
[Estrofe 1]
Do teto escuro do planetário
Desce um pavor existencial
Um desamparo tão primitivo
Que me sinto suspensa num fio umbilical
[Refrão 1]
Se neste manto negro vou
Para o infinito
Se neste tempo-espaço eu sou
Um cisco
Se nesta esfera até a luz
É em segunda mão
Será que tudo é ilusão
Ou existe?
[Pós-Refrão]
É ilusão ou não?
Ilusão ou não?
[Estrofe 2]
E pela lente do telescópio
Baixa uma angústia sideral
Esta existência é tão diminuta
Que me sinto esmagada no vácuo original
[Refrão 1]
Se neste manto negro vou
Para o infinito
Se neste tempo-espaço eu sou
Um cisco
Se nesta esfera até a luz
É em segunda mão
Será que tudo é ilusão
Ou existe?
[Pós-Refrão]
É ilusão ou não?
Ilusão ou não?
[Refrão 2]
Se no céu há mais estrelas
Que areia no deserto
Se é verdade o que nos diz
Saddam
E se o Sol que vejo ao longe
É a que está mais perto
Com que força me desperto
Amanhã?
[Outro]
Quem sou eu aqui?
Ilusão ou não?
Quem sou eu aqui?
É ilusão ou não?
CLÃ - OH, NÃO! OUTRA VEZ
[Estrofe]
Mesmo sem se dar por isso
O passado vem a nós
Tudo o que era volta a isso, o seu eco é sua voz
Mesmo sem se dar por isso
Tudo o que era volta a nós
O passado faz por isso, o seu eco é a nossa voz
[Pré-Refrão 1]
É a voz de quem espera do futuro um presente mais justo
Diferente
A voz que ardeu a custo e tarde ou cedo vai dizer liberdade
Premente
[Refrão 1]
Oh, não! Outra vez!
Cumpridas guerras e fomes, era o fim
Oh, não! Era o fim
A face enxuta, o fim do filme, e não na terra esta luta
[Estrofe]
Mesmo sem se dar por isso
O passado vem a nós
Tudo o que era volta a isso, o seu eco é sua voz
Mesmo sem se dar por isso
Tudo o que era volta a nós
O passado faz por isso, o seu eco é a nossa voz
[Pré-Refrão 2]
Voz de quem vai ao fundo e vem à tona só por vir respirar
Mais ar
Um ar não contaminado, nunca é cedo, ainda é tarde e demora
É agora
[Refrão 2]
Oh, não! Outra vez
Cumpridas guerras, fomes, era o fim
Oh, não! Pesadelo
Há que vivê-lo por dentro e logo após desfazê-lo
[Estrofe]
Sem se dar por isso
O passado vem a nós
Tudo o que era volta a isso, o seu eco é sua voz
Sem se dar por isso
Tudo o que era volta a nós
O passado faz por isso, que o seu eco é a nossa voz
[Ponte]
Era uma vez o ser humano
A ser extinto em cinzas
Eram já muitos, somos já nada
A ser desfeito em cinzas
Cinzas, pó e nada!
E assim se faz noite, e depois
Assim se faz luz em faróis
E assim mata a guerra entre dois
E assim vive a paz entre sóis
CLÃ - ARMÁRIO
[Verso 1]
Eu vou no arrepio
Eu vivo o desconforto
Eu sinto o calafrio
Pressinto o maremoto
Eu falho sempre o tiro
E digo que é por pouco
Faço mira ao destino
Mas do lugar do morto
Isto é um ápice
Isto é um triz
Eu estive quase
P'ra ser feliz
[Verso 2]
Hesito e não mergulho
O susto não me passa
Eu já não tenho orgulho
Mas prezo a carapaça
É onda que recua
É nuvem que ameaça
Eu já nem saio à rua
Com medo da desgraça
Oh, oh oh
Dentro do meu armário não há verão
Oh, oh oh
Eu sou como o canário da mina de carvão
[Pós-Refrão]
Eu sinto falta de ar
Eu tenho falta de ar
As aves já não piam
O calo já não sofre
As folhas rodopiam
E cheira a enxofre
Eu sou um gato preto
Eu nunca tenho sorte
Faço secar o trevo
Posso agoirar a morte
[Pré-Refrão]
É um ápice
É um triz
Eu estive quase
P'ra ser feliz
[Refrão]
Oh, oh oh
Aqui no meu armário não há verão
Oh, oh oh
Eu sou como o canário da mina de carvão
Oh, oh oh
No escuro do armário não há verão
Oh, oh oh
Eu sou como o canário da mina de carvão
Eu sinto falta de ar
Preciso sair
Eu tenho falta de ar
Eu quero sair
Não dá p'ra respirar
Eu quero sair
CLÃ - PENSAMENTOS MÁGICOS
[Verso 1]
Presa nos limites duma condição
Dou passos em volta como na prisão
Cavar ou não o túnel, eis a questão
A estudar a fuga até à exaustão
E olhar para mim
A fugir, a fugir
[Verso 2]
Ver em cada fenda a salvação
Ver em cada cor uma visão
De cada silêncio tirar uma lição
Ouvir em cada nota uma canção
E dançar até cair
Dançar e cair
[Refrão]
A sombra que há em mim não conhece fronteiras
A ave que há em mim sobrevoa barreiras
A força em mim não conhece fronteiras
A ave que há em mim sobrevoa barreiras
[Pós-Refrão]
E voar
Até escapar
[Verso 3]
Ver em cada sombra uma réplica do breu
E ver em cada coisa uma súplica do léu
Ver em cada passo um súbito apogeu
E ver como o azul se duplica no céu
[Refrão]
A sombra que há em mim não conhece fronteiras
A ave que há em mim sobrevoa barreiras
A força em mim não conhece fronteiras
A ave que há em mim sobrevoa barreiras
A força em mim não tem fronteiras
A ave em mim não vê barreiras
[Instrumental]
[Refrão]
A sombra que há em mim não conhece fronteiras
A ave que há em mim sobrevoa barreiras
A força em mim não tem fronteiras
A ave em mim não vê barreiras
CLÃ feat. ARNALDO ANTUNES - A ARTE DE FALTAR À ESCOLA
[Estrofe 1]
Não sentes tremer a terra?
Línguas de fogo e de gelo
Não sentes que a luz te ferra
Na nuca e no tornozelo?
[Refrão]
Mas só os que ainda crescem
Em massa desobedecem
[Estrofe 2]
Tudo murcha, tudo seca
No dilúvio e na aridez
Arde bosque e biblioteca
Nunca mais era uma vez
[Pré-Refrão]
Greve humana (ilimitada)
Na velha escola (já não se aprende nada)
[Refrão]
Mas só os que ainda crescem
Em massa desobedecem
Mas só quem está a crescer
Se insurge contra o poder
Ameaça da extinção
Congestão no espaço aéreo
Águas vão, não voltam não
Os mares viram cemitério
[Refrão]
Mas só os que ainda crescem
Em massa desobedecem
Mas só quem está a crescer
Se insurge contra o poder
[Ponte]
Para e pensa
Para e pensa
Para e pensa
Para e pensa
[Arnaldo Antunes]
Podres migrantes e párias
Multidões de exilados
Mil fronteiras mortuárias
P'ra afastar indesejados
[Refrão]
Mas só os que ainda crescem
Em massa desobedecem
Mas só quem está a crescer
Se insurge contra o poder
CLÃ - DÁ O QUE TEM
[Verso 1]
Beija o beijo
Peita o peito
Perna aperta
Braço abraça
A pele impele
O poro explora
Brecha abre
Coxa encaixa
Enrijece
Humedece
Enrijece
Humedece
[Verso 2]
Corpo a corpo (incorpora)
Pouco a pouco (se demora)
Fogo afaga (ar ofega)
Joga o jogo (pega esfrega)
Vê o que vem
Algo alguém
Sai de si
Fica aqui
Humedece
Enrijece
Humedece
[Pré-Refrão]
E dá o que tem
E dá o que tem
E dá o que tem
E dá o que tem
[Refrão]
P'ra mim
Só dá o que tem
Só dá o que tem
Só dá o que tem
P'ra mim
(Dá o que tem)
P'ra mim (dá o que tem)
(Dá o que tem)
Dá o que tem
[Verso 3]
Vem e vai
Entra e sai
Lábio lambe
Segue o sangue
Sua o sal
Arde o Sol
De tão doce
Quase dói
E dá o que tem
E dá o que tem
Dá-me o que tem
Dá-me o que tem
[Refrão]
Amor
Só dá o que tem
Só dá o que tem
Só dá o que tem
Amor
(Dá o que tem)
Amor (dá o que tem)
P'ra mim
(Dá o que tem)
Amor
(Dá o que tem)
Só dá o que tem
CLÃ - JOGOS FLORAIS
[Verso 1]
É um dom
Esquecer o chumbo das palavras
Quando alguém já as dourou
E é um dom
Travar o revirar dos olhos
Sempre que um verso é sobre amor
Oh, versejar o amor
[Pré-Refrão 1]
Se é ligeiro
Faz-se inteiro
Dum vazio
Que é loquaz
Mas, se é denso
Está propenso
A dar estofo às coisas vãs
[Refrão 1]
Quão rebuscado é o nosso amor?
Oh, tão sincero e impostor
Menos, mais - o que é o melhor?
Mil palavras por cada ação
P'ra o problema não ser de expressão
[Verso 2]
Prudência é um dom:
Ter favos de reserva prá caneta
Quando o mel se acabou
E é um dom
Descomplicar palavras-passe
Se a contrassenha for de amor
Sim, decifrar o amor
[Pré-Refrão 2]
Se o que penso
Está por extenso
Enobreço
As pulsões
Mas glossários
São grosseiros
Dão nudez aos corações
[Refrão 2]
Quão rebuscado é o nosso amor?
E eu pergunto
Menos ou mais, o que é o melhor?
De zero a dez, diz lá
Quão rebuscado é o nosso amor?
(Tão sincero e impostor)
Vem rabiscá-lo p'ra melhor
Tão curta ao pé dum poema
Tão curta ao pé dum poema de amor
[Outro]
Ah, de amor
Oh, o amor
CLÃ - TUDO NO AMOR
[Estrofe 1]
Tudo no amor faz do nada um tudo
O olhar mais agudo
Navego
Mas já que o amor é cego and love is a crazy game
Por amor ceguei-me
Cheguei-me
De bengala branca tateei no escuro
De bengala rosa
Por amor procuro
Uma flor secou e em botão renasce
Será que traz veneno
E a paixão desfaz-se
[Refrão]
Tudo no amor
Vive com o fantasma
Que viver em ti
Ele é cego e vê
E eu ceguei e vi
E é da sombra a luz
É da sombra o amor
E é do amor a luz
[Estrofe 2]
Se por paixão carrego o mundo todo às costas
Diz-me só se queres
Se gostas
Gostarás de ti ao gostares de mim?
O abrir e fechar de olhos
Traz outra cor aos olhos?
Bebemos então, tão e tudo a isso
Veneno e o seu contrário
Por amor remisso
[Refrão]
Tudo no amor
Vive com o fantasma
Que viver em ti
Ele é cego e vê
E eu ceguei e vi
E é da sombra a luz
É da sombra o amor
E é do amor a luz
[Outro]
Tudo no amor
É luz
CLÃ - NA SOMBRA
[Estrofe 1]
Queima o meu corpo o Sol
Rasgando o meu caixão
Não doer é o que mais dói
A quem já não dá uso ao seu coração
[Refrão 1]
Voem as balas: são de prata
É viver morto que me mata
Na palidez onde moro
Basta uma estaca e eu já coro
[Estrofe 2]
Camuflado pelo escuro
Tento escutar o amor, a sua canção
Quero decifrar os sons
Mas só tem ritmo quem tem pulsação
[Refrão 2]
Voem as balas: são de prata
É viver morto que me mata
Voem as balas: arma em riste
Prova ao meu sangue que ele existe
Da palidez
Não sei fugir
Fere o meu peito
E eu vou sorrir