16 de Abril, 2019
MÚSICA NOVA DO DIA I Ganso - Não te Aborreças
"Não te Aborreças" é a canção perfeita de entrada naquela que é uma fase nova e contrastante dos GANSO relativamente ao que fizeram até agora.
Onde antigamente se ouvia uma batalha saltitante e entusiasta de instrumentos, ouve-se mais espaço e silêncio. Ouvimos sintetizadores e pianos do Luís e do João que entram e saem mas que se entrosam, misteriosos e meticulosamente cuidados, que ganham um predominância sónica na canção (e arrisco-me a dizer que os sintetizadores são agora os novos maestros, JOVENS e empreendedores).
As guitarras e o baixo do Miguel e do Bicudo estão mais consistentes e certeiras, com efeitos bonitos e cintilantes a ritmar os andamentos, agora mais sóbrios. Os GANSO sempre gostaram de mudar os tempos das suas canções de forma quase esquizofrénica. Nesta canção felizmente isso volta a acontecer, porque este é um traço muito próprio e surpreendente das baterias do Thomas Oulman, que desta vez parece que o faz com um sentido de propósito maior com a entrada bonita e elegante do refrão.
As letras continuam divertidas, mas ao mesmo tempo ganham contornos mais profundos e existencialistas. Os coros agudos acompanham a voz do Sala, que está mais presente e maior. Sinto que ele encontrou um espaço especial no tom grave em que canta e está mais confortável a fazê-lo.
"Não te Aborreças" tem o ADN de GANSO, das canções anteriores e do passado, mas absolutamente exponenciado com trabalho e arranjos. Com uma simplicidade aparente que ganha dimensão à medida que ouvimos as entre linhas. Com mestria! Nas trocas de discos certamente ouviram Haruomi Hosono, Connan Mockasin, Drugdealer ou Foxygen. Trabalharam muito em Alvalade com a produção do Diogo Horse Rodrigues, e não podia estar mais feliz por eles.
A canção espelha na perfeição aquilo que será o próximo álbum: um meio para descobrir histórias, misterioso, com pequenos segredos e lugares curiosos, sons e aventuras, cores muito próprias e migalhas para se irem apanhando rumo ao mundo irreal.
Por Domingos Coimbra (Capitão Fausto, Bispo, Cuca Monga)