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06 de Janeiro, 2023

MÚSICA NOVA DO DIA I Prodígio - KING2DA

Prodígio tinha o trono preparado para 2020. KING2DA estava na calha, mas as circunstâncias fizeram adiar o álbum. Durante esse período de incerteza colectiva, perdeu o pai Domingos Moniz. "A pessoa mais importante da minha vida", assume. A perda deixou no rapper um vazio custoso de preencher. "Perdi a motivação e a vontade", descreve sobre um período de grande angústia pessoal, só ultrapassado através da música…

Deixar-se perder foi o antídoto encontrado para superar o desânimo. Em 2022, Prodígio fez sair não um, nem dois, nem três, mas sete álbuns (!). Nenhum deles foi um exercício aleatório ou meramente espontâneo. Filho do encontro de culturas e da mistura de povos, Prodígio, nascido em Angola, mas muito cedo emigrado para Portugal, fez de cada um dos sete episódios de Prodigia-te uma homenagem aos sete países de língua oficial portuguesa, onde sempre foi bem recebido, reconhecido e idolatrado. "Precisava de enlouquecer. E enlouqueci. Passei o ano fechado em estúdio". E eis que chega KING2DA para fechar em grande um ano incessante. 

Ao rap de palavra, não resta outra alternativa se não ser autobiográfico. Só a verdade importa em KING2DA, um testemunho de grande sinceridade que traça o mapa do coração como um psicólogo a um paciente. "[Este álbum] tem o melhor e o pior de mim. É a minha honestidade. Tanto dou donativos como vou à discoteca beber", assume. Mostra as feridas, expõe as dores, revela fantasmas, não foge de abismos, nem se furta a labirintos. “Das coisas mais difíceis que já escrevi/foi a coisa mais dura que vivi”, diz-nos em Sorrir de Novo, uma sentida declaração sobre perda com refrão sofrido de Sara Tavares, uma das nobres convidadas de um disco que faz da partilha um dos veículos da superação.

Syro é o co-piloto da ida sem volta de Paz, balada acústica para escutar em solidão e deixar o fim para trás. Até as almas gémeas podem um dia separar-se. Prodígio entrega-nos as chaves de casa, sem reservas, no íntimo e inesperado auto-retrato do ‘eu contra mim” de Tóxico, com refrão de Anna Joyce. Toda a gente tem um lado sombrio, a questão é se o queremos destapar. Por falar em surpresas, o instrumental acelerado de Teu Mambo é a senha para um mergulho no r&b de clube, eternizado por figuras como Beyoncé ou por clássicos como Never Leave You de Lumidee.  “Forever, forever, ever, forever, ever?’, perguntavam os Outkast no hino ao arrependimento Ms. Jackson. Pra Sempre tem a resposta com a generosidade de Dino D’Santiago no refrão, e versos saídos directamente da consciência de Jimmy P.

Já tirámos a pulsação a KING2DA, mas o Prodígio atirador de rimas não se foi embora. A canção titular faz as honras da casa directamente do trono. “É assim que se faz o Rei”, declara. Como? Com “família, saúde, dinheiro e Deus”. “Estavas à espera de ouvir o puto num beat do Sam?”, interroga em Sem Misericórdia. The Kid e o King guiam-se pela “Rhymeshit que Abala” há vinte anos, desde que Chullage a soltou, e o chão estremece. Por falar em colaborações e amizades, quem melhor do que Rincon Sapiência para partilhar versos e verbos na muito vivida A Gente Pode - “se a gente cair, depois a gente sobe” - sobre o caminho das pedras e a estrada de alcatrão.

Afrika, o primeiro single, é por razões familiares e políticas, uma bandeira dentro do álbum Prodígio ficou a saber através do irmão, da existência de vozes inéditas do pai, um mês depois de o ter perdido durante a pandemia. O lamento de Domingos Moniz escuta-se num refrão de grande carga emocional, espiritualmente ampliado pela presença de um coro religioso. É uma canção unida por laços familiares indestrutíveis da família Moniz: os versos são de Osvaldo (Prodígio), a produção do irmão Nilton e o refrão do pai Domingos. A inspiração, essa, vem de “Ser Negro”, original de Gutto, membro dos Black Company e pioneiro do r&b em Portugal.

Para fechar, um pouco de Fire porque um álbum doce e emotivo também precisa de sujidade e o óleo continua derramado sobre o alcatrão. Só que alguém com a experiência acumulada e currículo platinado de Prodígio não escorrega como um principiante. Membro da Força Suprema, há mais de uma década que assina em nome próprio com flow inconfundível e narrativa intransmissível.

Nada de surpreendente para quem revela habilidades invulgares na escrita desde os 12 anos, mas a escada é sempre mais longa para um filho da rua. Entre vários prémios, os mais recentes foram o de Melhor Álbum do Ano, graças a Prodígio e Rapper MVP, ambos do Angola Hip Hop Awards. Já este ano, o longa-duração Prodigia-te chegou ao topo da tabela dos mais ouvidos no Apple Music. Foi um dos sete álbuns editados em sete meses, cada um dedicado a um país de língua portuguesa, com convidados locais como Stereossauro e Holly (Portugal); Anselmo Ralph e Irina Barros (Angola); Ellputo e Lydasse GMT (Moçambique); Loony Johnson e Elji Beatzkilla (Cabo Verde); DwD On The Beat e Franz1s (São Tomé e Príncipe): Karyna Gomes (Guiné); DJ Caíque, Pikachu Lacerda e o luso-brasileiro Mizzy Miles (Brasil) Em outubro, Prodígio inaugurou o espaço Prodigia-te, no bairro Prenda, em Luanda. Um projecto social de identificação de talentos em diversas áreas, musicais e não só.

 

 

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